Eu comprei esse livro e demorei um pouco para ler, em parte porque se tratava do relato de uma menina que viveu em meio a uma guerra e em parte porque sempre arrumava um pretexto para não enfrentar essa leitura.
Myriam teve a sua infância e sua adolescência roubada, não por que ela quis, mas porquê não teve escolha.
"Foi ali, pela primeira vez, que entendi o que significava a guerra. A guerra era minha infância destruída sob essas ruínas e fechada em uma caixinha."
As manifestações contra o presidente Bashar al-Assad começaram em 2011 e Myriam estava com 6 anos. Sua mãe deu um diário para que ela registra-se as coisas que visse e não esquecesse, só que com o passar dos anos, ficou muito difícil de esquecer as bombas e as mortes que a rodearam.
A Guerra da Síria iniciou com as primeiras manifestações ao sul de Derra em favor da democracia. A população se revoltou contra a prisão de adolescentes que escreveram palavras revolucionárias nas paredes de uma escola. Em resposta, o governo ordenou as forças de segurança que atirassem contra os manifestantes causando muitas mortes. A populaçãÈo se revoltou contra a repressão e exigiu a renúncia do presidente.
Myriam narra, ao longo dos anos, os momentos que ela queria ir para a escola, mas começou a se tornar perigoso, mudança de bairro para tentar fugir das bombas e atentados, e restrição de alimento.
"Quando a gente abre as janelas, não tem um barulho de vida sequer. Não existem flores, não existem cores e até os pássaros já nos deixaram."
O desespero vivenciado pela criança nos faz pensar o quanto o ser humano é cruel e até beira a irracional. Milhões de pessoas morreram. Pessoas inocentes que não tinham nada a ver vieram a falecer, as brigas continuam até hoje. E apesar de terem saído da região onde Myriam vive hoje, ela sente na vida o que a guerra causou a ela, enquanto criança e adolescente. São marcas profundas de dias sombrios que ela vai guardar na memória e que preferia esquecer.
A leitura do livro me fez sentir o quão suscetíveis estamos aos conflitos e que não podemos ter medo de resistir. Pela Myriam e tantas outras crianças que tiveram suas infâncias ceifadas pela guerra, a violência e a perda de tantos entes queridos. O livro é um tapa na nossa cara e o olhar da criança que vai crescendo e se tornando mulher nos faz entender que cada momento é valioso e ter empatia por tantas pessoas que sofreram e ainda sofrem por essa zona de conflito.
É uma leitura carregada de tristeza e ao mesmo tempo de esperança e de que podemos acreditar que dias melhores virão.
Vem embarcar comigo nessa leitura que fará seus olhos marejarem.
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| Foto retirada da internet. Fonte:https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/o-diario-de-myriam-conheca-livro-da-menina-siria-que-registrou-a-guerra-civil.ghtml |
Título: O diário de Myriam
Autor: Myriam Rawick e Philippe Lobjois
Editora: DarkSide Books
Páginas: 320
Sinopse: De um lado, uma menina judia que passou anos escondida no Anexo Secreto tentando sobreviver à guerra de Hitler. De outro, uma garota síria que sonha ser astrônoma e vê seu mundo girar após a eclosão de um conflito que ela nem mesmo compreende. Mesmo separadas por mais de setenta anos, Anne Frank e Myriam Rawick têm um elo comum: ambas são símbolos de esperança e resistência contra os horrores de um país em guerra e acreditam no poder das palavras.
O Diário de Myriam é um registro comovente e verdadeiro sobre a Guerra Civil Síria. Escrito em colaboração com o jornalista francês Philippe Lobjois, que trabalhou ao lado de Myriam para enriquecer as memórias que ela coletou em seu diário, o livro descortina o cotidiano de uma comunidade de minoria cristã que sofre com o conflito através dos olhos de uma menina.
Assim como acompanhamos a Segunda Guerra Mundial pelos olhos da pequena Ada em A Guerra que Salvou a Minha Vida e A Guerra que Me Ensinou a Viver, O Diário de Myriam apresenta a perspectiva de uma menina que teve sua infância roubada ao crescer rodeada pelo sofrimento provocado pela Guerra da Síria, iniciada em 2011. Myriam começou a registrar seu cotidiano após sugestão da mãe, que propôs que ela contasse tudo aquilo que viveu para, um dia, poder se lembrar de tudo o que aconteceu.
Escrito entre novembro de 2011 a dezembro de 2016, o diário alterna entre as doces memórias do passado na cidade de Alepo e os dias carregados de incertezas e dolorido. E é com a sensibilidade de uma autêntica contadora de histórias que ela narra a preocupação crescente de seus pais com as manifestações contra a repressão, o sequestro de seu primo pelo governo, as notícias na televisão, as pinturas revolucionárias nos muros da escola e, por fim, os bombardeios que destroem tudo aquilo que ela conhecia.

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