11 de setembro de 2019

{Resenha} O Diário de Nisha

Hoje a resenha é sobre o livro "O Diário de Nisha" de Veera Hiranandani.
Foto retirada de arquivo pessoal
Quando eu vi a capa desse livro, já me apaixonei. Fico bem animada para fazer esse tipo de leitura apesar de saber que vai mexer bastante comigo. 

O livro é escrito, como forma de diário, por Nisha. Ela ganha de presente de Kazi, o cozinheiro da família que faz com que ela se conecte consigo mesma e comece a transformar a escrita, nas palavras que ela gostaria de dizer mas, não consegue. 
"Amil costumava ser o favorito do papai, acho que porque ele sempre foi mais barulhento, mais feliz e mais divertido do que eu."pág. 13
Nisha é uma menina de doze anos, que vê seu mundo ser transformado quando a Índia se torna independente do governo inglês e se divide em duas republicas: Índia e Paquistão. Essa divisão causa muita tensão política e religiosa fazendo com que ocorra uma guerra civil e milhares de mortes. 

A menina que é gêmea de Amil, se vê no meio dessa tensão tendo que conviver com um pai médico que interage pouco com os irmãos e uma avó que auxilia nos cuidados da casa e das crianças. E em meio a briga religiosa que vive o país, a família decide largar tudo e ir para a nova Índia. 
"Se eu soubesse desenhar, faria Amil como um galho comprido, alto e magro, mas quebrável. eu seria pequena e encolhida, e estaria escondida em algum lugar nas sombras." pág. 60
A narrativa de Nisha nos faz pensar em várias questões: o quanto a falta de uma figura materna na vida das duas crianças é importante para muitos aspectos, principalmente o afetivo e o social. O quanto o pai das crianças, sendo médico, auxilia nessa luta para que eles conseguissem ultrapassar a fronteira sem morrer, mas deixando a desejar o carinho fraternal. O que o instinto de sobrevivência faz com o ser humano. E o quanto os traumas de uma guerra podem abalar psicologicamente a vida de uma pessoa. 

Nisha passou por algumas situações importantes que ela vai narrando em seu diário que nos faz entender um pouco a cultura e a forma de vida da maioria das meninas que nascem em países que a religião tem um forte impacto na vida das pessoas. E, tudo bem que é uma obra de ficção, mas alguns relatos nos fazem pensar sobre o quanto essas meninas são oprimidas e obrigadas a fazer muitas coisas, que não podem falar pois estarão desrespeitando seus pais, ou até mesmo se falarem podem, na sua cabeça, piorar uma situação ao invés de melhorar. Isso fica bem claro ao longo da narrativa da personagem principal. 
"Eu sentia as coisas que ele não podia sentir, e ele dizia as coisas que eu não era capaz de dizer, exceto para ele. Era assim que funcionava." pág. 121
Nisha é uma menina que fala pouco, por ser tímida e por achar que não precisa colocar em palavras o que sente. O único que a compreende um pouco é Amil, mais extrovertido e sincero, e isso a deixa feliz, mas ao mesmo tempo bem frustrada, por simplesmente não conseguir falar. O diário vem como uma forma de desabafo, mas Nisha vai ter que ser muito forte e corajosa para transpor as barreiras da vergonha, ou simplesmente do fato de achar que falar não é importante para os outros e a sua existência será colocada em xeque, por ela mesma. E outro que tem um papel importante nessa descoberta de Nisha é Kazi.

Foto retirada de arquivo pessoal
A menina é aquele personagem que cresce na evolução da narrativa, apesar do medo de falar e achar que sua voz não é importante, ela tenta driblar esse trauma e dar a volta por cima, com dificuldade mas com muita graciosidade e afeto. Eu a vejo como uma borboleta, ela passa por um processo de transformação que a faz crescer, e se tornar forte para se manter no sistema. 
"Nunca entenderei, enquanto viver, como um país pode mudar tanto da noite para o dia a partir de uma única linha divisória." pág. 268
A escrita de Veera é bem fluida e nos faz viajar por uma cultura tão diferente da nossa. Ela deixa leve um tema pesado e ao final da leitura o coração transborda de gratidão pela oportunidade de ler um livro tão delicado e ao mesmo tempo rico em afeto, amizade, transformação e beleza. 

A edição está impecavelmente linda e eu só tenho que dizer: LEIAM! Vamos disseminar a história de Nisha por ela, por mim e por tantas crianças que passaram ou passam por momentos difíceis, seja na guerra religiosa, nas suas escolhas, na sua classe social ou até mesmo dentro da sua casa. Vamos embarcar nessa fantasia com gostinho de Gulab Jamun!

*Livro cedido em parceria com a Editora. 
Onde comprar: Loja DarkSide


Título: O Diário de Nisha
Autor: Veera Hiranandani
Editora: DarkSide Books
Páginas: 288
Sinopse: Nisha não é de falar muito. Quietinha e reservada, prefere observar as pessoas ao seu redor e anotar os detalhes do cotidiano em seu diário, onde pode ser ela mesma. E ser ela mesma não é nada fácil no epicentro da Partição da Índia, que, após séculos de tensão religiosa, atinge seu ápice criando dois estados independentes do governo britânico: a Índia (maioria hindu) e o Paquistão (maioria muçulmana).
Parte hindu e parte muçulmana, Nisha não sabe muito bem a qual lugar pertence, e não entende os desdobramentos políticos deste momento tão crucial da história. Por que hindus e muçulmanos estão brigando tanto entre si? Por que milhares de pessoas precisam abandonar seus lares? E por que tantas acabam morrendo ao atravessar as fronteiras?
Com as tensões criadas pela separação, o pai de Nisha decide que é perigoso demais para eles permanecerem no lugar que, agora, se tornou o Paquistão. É neste cenário turbulento que Nisha e sua família — o irmão Amil, a avó e o pai — embarcam no primeiro trem, rumo a um novo lar.
A DarkSide® Books apresenta O Diário de Nisha, novo lançamento da linha DarkLove que vai arrebatar seu coração com a árdua e arriscada jornada de uma esperançosa menina em busca de um lar. Endereçando cada relato do diário para a finada mãe, ela registra sua vida com ricos detalhes ao longo do ano de 1947 — os momentos bons em que prepara pratos deliciosos com Kazi, cozinheiro da família, e os ruins em que o mundo se mostra cruel e nada mais parece fazer sentido.
Com ternura e esmero, Veera Hiranandani transmite os conflitos internos de Nisha e retrata a dura realidade provocada pela Partição, que movimentou mais de catorze milhões de pessoas pelas fronteiras e matou pelo menos um milhão durante a travessia. O impressionante recorte histórico é inspirado na trajetória de sua própria família, que precisou atravessar a fronteira de Mirpur Khas para Jodhpur exatamente como a pequena Nisha faz neste livro. Seus pais e avós tiveram de recomeçar em um lugar estranho como uma família de refugiados — história que, tantos anos depois, tristemente ressoa com a realidade de muitas famílias que sofrem com a Guerra da Síria.
Vencedor do Newbery Honor Award 2019, Walter Dean Myers Honor Award 2019 e Malka Penn Award para Direitos Humanos em Literatura Infantil em 2018, O Diário de Nisha é a história perfeita para todos os leitores que se emocionaram com a pequena Ada em A Guerra que Salvou a Minha Vida e A Guerra que me Ensinou a Viver, e também com os relatos verdadeiros em Refugiados: A Última Fronteira e O Diário de Myriam.
Assim como os livros mais tocantes da linha DarkLove, que publica poderosas vozes femininas contemporâneas, O Diário de Nisha aquece o coração do leitor com uma história tão bela e sensível que é um verdadeiro tesouro. Através da busca de Nisha por identidade, aprendemos a exercer a empatia e a lutar por um futuro mais tolerante e pacífico. E vemos que reconstruir a vida nunca é fácil, mas fica um tantinho melhor se for ao lado das pessoas que mais amamos.




Denise Brigido "Uma pessoa que ama os livros, e esse mundo literário, adora viajar e conhecer novas culturas e é louca pelos animais. Sou apaixonada pela vida, pelos animais e por viagens. Fisioterapeuta de profissão e leitora compulsiva de coração! Leio livros desde os meus 8 anos e hoje aos 30 resolvi embarcar nessa aventura, que é poder compartilhar um pouco com vocês o meu amor por esse universo literário."

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