Hoje a resenha é sobre o livro "Estranhos a nós mesmos" de Rachel Aviv.
Foto retirada de Arquivo Pessoal |
A aclamada jornalista Rachel nos traz 4 casos clínicos que vão nos fazer tentar entender um pouco e ter empatia sobre o que é a saúde mental, como ela era tratada no mundo em meados do século XX e como ainda podemos ter tanta dificuldade de entender a forma como esse paciente vive e é tratado perante a sociedade.
Rachel vai abordando a sua história de vida para assim adentrar na vida das quatro pessoas citadas no livro e de Hava, uma adolescente que entrou em contato com Rachel enquanto ela estava internada em um hospital, aos 6 anos de idade com um quadro de anorexia. Ela não se enxergava doente, mas de alguma maneira, ela parou de comer e foi diagnosticada precocemente com a anorexia. A forma como lidaram com o diagnóstico moldou o processo de desenvolvimento e vida adulta da autora, e ela aborda isso muito bem no livro.
Além disso, vamos conhecer a história de Ray, um médico super renomado na área, que já não consegue operar e se vê internado em um hospital psiquiátrico tendo que lidar com a sua depressão, a psicanalise como forma única terapêutica e sem nenhum tipo de medicação associada. Bapu, uma brâmane que se vê deixando a sua família após um diagnóstico precoce de esquizofrenia, para seguir uma vida acética. Naomi, que acha que pode salvar o mundo do racismo e num ato de psicose comete algo grave que vai impactar nos cuidados com os filhos. E por último, Laura, uma mulher da alta sociedade, que tem acesso a todo tipo de tratamento e se apega nisso para manter o uso da medicalização, até se vê totalmente dependente e abandonar esse tratamento.
E um caso que também a autora comenta, mas que não foi abordado de uma maneira profunda, é o de Hava, uma adolescente que entre idas e vindas a internação por anorexia e depois bulimia, se vê sozinha no mundo e só com o apoio do pai.
Em todos os casos, nós conseguimos notar uma particularidade única, o quão complexo é o cuidado em saúde mental e isso se dá em todas as classes sociais. A saúde mental, em cada caso é abordada de um jeito, mas o que podemos notar é que o paciente sempre fica em segundo plano. A ideia de se utilizar a medicalização só foi aceita após anos investindo somente na psicanalise. Analistas achavam que o paciente encontraria o seu insight e se veria curado. O Ray foi um caso desses nos EUA e o que ficou provado era que dependendo do caso, a medicação é muito importante para tratar o fator psiquiátrico e as reações neuroquímicas.
A autora aborda vários temas difíceis e importantes para a gente refletir como: psicanálise, psicofarmacologia, questão social e o manejo desses tratamentos a longo prazo. Como o sistema de saúde das cidades não estão preparadas e o efeito colateral desses medicamentos a longo prazo. Esses efeitos colaterais podem impactar no cotidiano do paciente e prejudicá-lo na vida adulta e idosa, inclusive. A leitura te traz muitos questionamentos, a forma como a saúde mental ainda é vista, o uso abusivo de psicotrópicos como uma forma de conter o paciente, o deixando o menos funcional possível. A utilização de métodos, que hoje são questionáveis, como: o eletrochoque. E a terapia associada a medicação, que pode sim ser algo bom para as pessoas que possuem esse acesso mais facilmente.
Eu adorei a leitura. Acredito que deveria ser uma leitura obrigatória sobre os pontos vulneráveis quando falamos em saúde mental. A Rachel aborda de uma maneira tão sensível e tão fluida que não tem como você não correr para ler o livro inteiro.
Eu amei o livro, amei a leitura. Então, vocês estão esperando o que para ler?
*Livro cedido em parceria com a Editora
Onde Comprar: Companhia das Letras
Título: Estranhos a nós mesmos: histórias de mentes instáveis
Autor: Rachel Aviv
Editora: Zahar
Páginas: 304
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