24 de dezembro de 2023

{Resenha} Estranhos a nós mesmos: histórias de mentes instáveis

Hoje a resenha é sobre o livro "Estranhos a nós mesmos" de Rachel Aviv. 

Foto retirada de Arquivo Pessoal

A aclamada jornalista Rachel nos traz 4 casos clínicos que vão nos fazer tentar entender um pouco e ter empatia sobre o que é a saúde mental, como ela era tratada no mundo em meados do século XX e como ainda podemos ter tanta dificuldade de entender a forma como esse paciente vive e é tratado perante a sociedade. 

Rachel vai abordando a sua história de vida para assim adentrar na vida das quatro pessoas citadas no livro e de Hava, uma adolescente que entrou em contato com Rachel enquanto ela estava internada em um hospital, aos 6 anos de idade com um quadro de anorexia. Ela não se enxergava doente, mas de alguma maneira, ela parou de comer e foi diagnosticada precocemente com a anorexia. A forma como lidaram com o diagnóstico moldou o processo de desenvolvimento e vida adulta da autora, e ela aborda isso muito bem no livro. 

Além disso, vamos conhecer a história de Ray, um médico super renomado na área, que já não consegue operar e se vê internado em um hospital psiquiátrico tendo que lidar com a sua depressão, a psicanalise como forma única terapêutica e sem nenhum tipo de medicação associada. Bapu, uma brâmane que se vê deixando a sua família após um diagnóstico precoce de esquizofrenia,  para seguir uma vida acética. Naomi, que acha que pode salvar o mundo do racismo e num ato de psicose comete algo grave que vai impactar nos cuidados com os filhos. E por último, Laura, uma mulher da alta sociedade, que tem acesso a todo tipo de tratamento e se apega nisso para manter o uso da medicalização, até se vê totalmente dependente e abandonar esse tratamento. 

E um caso que também a autora comenta, mas que não foi abordado de uma maneira profunda, é o de Hava, uma adolescente que entre idas e vindas a internação por anorexia e depois bulimia, se vê sozinha no mundo e só com o apoio do pai. 

Em todos os casos, nós conseguimos notar uma particularidade única, o quão complexo é o cuidado em saúde mental e isso se dá em todas as classes sociais. A saúde mental, em cada caso é abordada de um jeito, mas o que podemos notar é que o paciente sempre fica em segundo plano. A ideia de se utilizar a medicalização só foi aceita após anos investindo somente na psicanalise. Analistas achavam que o paciente encontraria o seu insight e se veria curado. O Ray foi um caso desses nos EUA e o que ficou provado era que dependendo do caso, a medicação é muito importante para tratar o fator psiquiátrico e as reações neuroquímicas. 

A autora aborda vários temas difíceis e importantes para a gente refletir como: psicanálise, psicofarmacologia, questão social e o manejo desses tratamentos a longo prazo. Como o sistema de saúde das cidades não estão preparadas e o efeito colateral desses medicamentos a longo prazo. Esses efeitos colaterais podem impactar no cotidiano do paciente e prejudicá-lo na vida adulta e idosa, inclusive. A leitura te traz muitos questionamentos, a forma como a saúde mental ainda é vista, o uso abusivo de psicotrópicos como uma forma de conter o paciente, o deixando o menos funcional possível. A utilização de métodos, que hoje são questionáveis, como: o eletrochoque. E a terapia associada a medicação, que pode sim ser algo bom para as pessoas que possuem esse acesso mais facilmente. 

Eu adorei a leitura. Acredito que deveria ser uma leitura obrigatória sobre os pontos vulneráveis quando falamos em saúde mental. A Rachel aborda de uma maneira tão sensível e tão fluida que não tem como você não correr para ler o livro inteiro. 

Eu amei o livro, amei a leitura. Então, vocês estão esperando o que para ler?

*Livro cedido em parceria com a Editora

Onde ComprarCompanhia das Letras

Título: Estranhos a nós mesmos: histórias de mentes instáveis
Autor: Rachel Aviv
Editora: Zahar
Páginas: 304

Sinopse: Neste premiado livro de estreia, a aclamada jornalista Rachel Aviv levanta questões fundamentais sobre como nos entendemos em momentos de crise e angústia. Movida por um profundo senso de empatia e por sua própria experiência de viver em uma ala hospitalar aos seis anos de idade, diagnosticada com anorexia, ela recupera a trajetória de pessoas que se depararam com os limites das explicações psiquiátricas sobre quem são.
Entre elas, um homem dividido entre as interpretações dominantes no século XX para seu quadro depressivo; uma brâmane tida como esquizofrênica que fugiu da família para seguir uma vida ascética; uma mulher negra e encarcerada, mais uma vítima do racismo em seu país, lutando pelo perdão dos filhos após se recuperar de uma psicose; uma jovem abastada que, depois de uma década se definindo por seu diagnóstico de bipolaridade, decide parar de tomar os remédios porque não sabe mais quem é sem eles.
Com uma escrita envolvente, que embala um minucioso trabalho de reportagem e pesquisa médica, Estranhos a nós mesmos questiona como as histórias que contamos sobre transtornos mentais moldam seu percurso em nossas vidas -- e também nossas identidades.

Denise Brigido "Uma pessoa que ama os livros, e esse mundo literário, adora viajar e conhecer novas culturas e é louca pelos animais. Sou apaixonada pela vida, pelos animais e por viagens. Fisioterapeuta de profissão e leitora compulsiva de coração! Leio livros desde os meus 8 anos e hoje aos 30 resolvi embarcar nessa aventura, que é poder compartilhar um pouco com vocês o meu amor por esse universo literário."

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