Hoje a resenha é sobre o livro "Feliz ano velho" de Marcelo Rubens Paiva.
Foto retirada de Arquivo Pessoal |
Eu estava ansiosa para ler esse livro, porque como vocês sabem, não leio sinopse, então não tinha noção do que se tratava.
Marcelo veio contar sua história com essa edição de 40 anos comemorativa. E ao ler, confesso que me surpreendi, não sei se tão positivamente, mas vocês já saberão ao longo dessa resenha.
O autor sofreu um acidente, ao mergulhar em um lago de cabeça, ele se vê sem os movimentos das pernas e braços, os amigos ainda tentam o levantar, mas sem sucesso. Marcelo é levado ao hospital e só sai depois de longos meses, sentado em uma cadeira de rodas.
Marcelo tinha apenas vinte anos quando se aventurou naquele lago, fazia faculdade de Engenharia na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), tinha muitos amigos, morava em uma republica, namorava e atualmente estava se aventurando na música.
Ao saber que não iria mais andar e nem pegar objetos ou até mesmo tocar seu violão, não deixou que a tristeza o abalasse. Ficou um tempo tentando entender o que tinha acontecido e depois disso tentou ressignificar o acidente e o modo como levaria a vida, agora em uma cadeira de rodas.
Algumas considerações desse livro devem ser observadas e eu não consegui deixar de me incomodar. Marcelo era aquele típico jovem de classe média alta. Gostava de sair e aproveitar a vida e infelizmente a vida lhe deu uma rasteira. Isso fez com que ele colocasse a mão na consciência e tomasse outro rumo.
O que aconteceu com o Marcelo, poderia acontecer com qualquer um de nós, mas lá em 1970 as coisas não eram como hoje e a medicina não tinha evoluído tanto. Ao ir lendo o relato do Marcelo, comecei a achá-lo bem mimado e birrento. O jeito como ele tratava os profissionais que o ajudavam não me agradou, a forma como ele sexualiza as cenas também não, mas entendo também era um momento de muito estresse, ter que lidar com a sua nova condição. E também temos que levar em consideração que era outra época. Uma época em que tudo era permissivo e permitido para quem tinha dinheiro (o que não mudou muito hoje em dia).
A vida de uma pessoa com deficiência não é fácil, e o Marcelo vem de uma forma bem delicada trazer esse relato. O fato de depender das pessoas para tudo, como se vestir, a reabilitação como uma parte importante da vida também é bem válido de ler. Ainda mais eu, sendo fisioterapeuta, traz um relato importante do quanto ele evolui com a fisioterapia, a terapia ocupacional e a equipe de enfermagem que o auxiliava em tempo integral.
Apesar das considerações, achei a leitura muito válida. O livro, por ser uma edição comemorativa, traz fotos de jornais e entrevistas que o próprio Marcelo deu na época. Eu ganhei há um tempo um livro dele, mas ainda não tinha tido a oportunidade de ler, e agora fiquei bem curiosa para saber se irei gostar da leitura, mas isso eu trago para vocês mais pra frente.
Por ora, só quero dizer que é um livro que vai mexer com você de muitas maneiras, pode ser com sentimento de raiva ou compaixão, então, se tiverem a oportunidade, leiam! Vale a pena.
*Livro cedido em parceria com a Editora.
Onde Comprar: Companhia das Letras
O romance autobiográfico sobre o acidente que colocou Marcelo Rubens Paiva em uma cadeira de rodas quando tinha vinte anos se tornou, rapidamente, sucesso de público e crítica – liderou por quatro anos a lista dos mais vendidos; ganhou versões, entre outros idiomas, em inglês, espanhol e tcheco; foi adaptado para o teatro e para o cinema; conquistou prêmios como o Jabuti; se tornou tema de inúmeros trabalhos e pesquisas nas universidades país afora. Porém, o que se revela mais importante é como até hoje não para de conquistar uma legião de leitores.
Longe de ser o simples testemunho de uma experiência dolorosa, Feliz ano velho é o retrato geracional de uma juventude que, no final dos anos 1970, experimentava a abertura do governo militar e o sonho da redemocratização. O estilo de Marcelo, calcado num humor despretensioso e ao mesmo tempo mordaz, afasta a narrativa de qualquer pendor para o melodrama ou a autopiedade – pelo contrário, esse é um texto de enorme força que, passados quarenta anos, continua atual, vibrante e uma leitura indispensável.
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