Hoje a resenha é sobre o livro "Solitária" de Eliana Alves Cruz.
Foto retirada de Arquivo Pessoal |
Eu já me interessei pela leitura desse livro só por ser da Eliana, já tinha lido um outro e tinha gostado demais.
E nesse livro vamos embarcar na vida de Mabel e Eunice, mãe e filha, que praticamente moram no trabalho e que vão passar por várias fases dentro da casa da família onde Mabel trabalha, que chegarão a conclusão que o mais importante nem sempre é o que está posto na nossa frente.
Eunice é uma menina que sabe o que não quer, que é fazer o mesmo que a mãe. Vivendo praticamente dentro do trabalho da mãe, a menina se vê em um dilema muito grande, depois de passar por uma fase muito crítica, que terá que se apoiar na força e no amor que tem por sua mãe.
Mabel é uma mulher negra que não sabe fazer outra coisa que servir, e esse servir quer dizer tantas coisas. Aprendeu desde cedo que trabalhar edifica o homem, mas ninguém ensinou que ser "quase da família" não significa muita coisa, quando vidas de pessoas brancas estão em jogo.
Além desse relação com os patrões, vamos acompanhando também a vida de Mabel e de todas as violências que ela vivência e/ou vivenciou na sua vida. E o que ela tenta não repetir com a filha, apesar de ser difícil quebrar a corrente, as duas vão construindo um caminho diferente daquilo que seria imposto pela sociedade. E a maneira como isso vai se desenhando é lindo de ler.
A autora vai narrando os fatos dessas duas mulheres negras de uma forma tão sensível e envolvente que não tem como você não ter uma análise crítica e consciência de classe. A forma como o trabalho doméstico ainda é visto e colocado no nosso país em pleno século XXI diz muito sobre o racismo estrutural.
Além disso, a Eliana, de uma forma sábia, aborda temas sensíveis que irão fazer com que entendamos também sobre o acesso das pessoas a saúde, cultura, religião e tantas outras coisas que achamos que é besteira ou puramente mimimi.
A Eliana já tinha me ganhado com o livro "Nada digo de ti, que em ti não veja" e com esse o amor só se tornou mais profundo.
A leitura é fluida e simplesmente te prende do início ao fim. Eu indico muito essa leitura. Acredito que a vida seria mais fácil se a gente tivesse um pouco da coragem da Eunice e da força da Mabel. Venham ler esse livro e me falem se eu não estou certa em ter amado demais essa leitura.
*Audiobook cedido em parceria com a Editora.
Onde Comprar: Companhia das Letras
Solitária conta a história de duas mulheres negras, Mabel e Eunice, mãe e filha, que moram no trabalho, um condomínio de luxo desses encontrados em qualquer grande cidade brasileira. Eunice, a mãe, é testemunha-chave de um crime chocante ocorrido na casa dos patrões. Mabel, a filha, constrói o caminho que leva não apenas à elucidação deste crime, mas a uma mudança radical na vida das pessoas que cercam as protagonistas.
Em prosa ágil, intensa e assertiva, Eliana Alves Cruz constrói uma miríade de histórias que revolve o imaginário do trabalho doméstico no Brasil -- ainda tão vinculado à época escravocrata -- e o relaciona a questões contemporâneas urgentes como a pandemia, o debate sobre ações afirmativas e a luta por direitos reprodutivos.
Testemunho de uma crucial mudança de sensibilidade no espírito de nosso tempo, Solitária dá provas do quão urgente se tornou elaborar -- sem meias palavras -- não apenas a história, mas as sobrevidas da escravidão colonial. Ao fazê-lo, mostra como é possível enfrentar o desafio moral e ético de abordar essas experiências de vida sem replicar gratuitamente a violência que a sustenta nem reencenar nenhum pacto oculto de subalternidade. É um romance libertação.
"Eliana narra com a maestria da linguagem de alguém que sabe lidar com as palavras." -- Conceição Evaristo
"Em Solitária, Eliana desponta como uma das mais importantes vozes de nossa literatura contemporânea." -- Itamar Vieira Junior
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